Congresso

Pronunciamento de Robson Vasconcelos de Oliveira na solenidade de abertura do CBO2016

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11.10.2016

Para quem não me conhece, sou de Maceió e sofri o acidente no ano passado, no congresso em Florianópolis.

Boa noite a todos. Agradeço ao presidente do CBO por sua ação desde o início do acidente. Ao presidente deste congresso pelo acolhimento irrestrito da minha vinda aqui.

Um agradecimento especial a todos os amigos que deram total apoio a mim e a minha família: João Marcelo Lyra e Renato Ambrósio, que apesar de todas as suas atribuições no cenário da Oftalmologia mundial tem sido um grande parceiro nesta minha luta. Quero agradecer tantas e tantas manifestações de apoio e carinho dos colegas de todo o Brasil, inclusive as ajudas financeiras, muitas delas de colegas e clínicas que não conheço pessoalmente.

Pela brevidade da solenidade resolvi ser direto e objetivo nas minhas palavras. A Zeiss tem me ajudado em parte do meu tratamento. Não conseguimos chegar a um acordo justo. Eu e minha família estamos buscando o que há de melhor no Brasil e no mundo para minha reabilitação. Além disso, como pai de família e profissional liberal, com diversos compromissos financeiros que não deixaram de existir com o acidente, confesso que não tem como não sentir medo do futuro.

Porém, após ter ido Zeiss, na Alemanha, no mês passado e ontem ter recebido o presidente da Zeiss, que pela primeira vez desde o acidente esteve comigo, acredito que as coisas tomarão rumo adequado para que eu me preocupe única e exclusivamente com a minha recuperação.

Para isto também conto com o apoio da minha classe oftalmológica, pois esta tragédia poderia ter acontecido com qualquer um dos presentes aqui. Gostaria de dizer que o amor que Deus fez da minha vida e na vida da minha família, esta palavra que a Bíblia nos ensina em primeiro Coríntios 13, que fala do amor que dá sem nada receber. É o amor de Deus que me sustenta e que eu não merecia por achar que tudo eu conseguia com as forças dos meus braços e do meu trabalho.

Mas, quando vi a minha vida se passando na minha frente e não poder fazer nada, não poder praticar os esportes como antes, exercer minha profissão como antes, usufruir do meu tão sonhado centro cirúrgico, inaugurado apenas um mês antes do acidente, não poder viajar com a independência de antes e em alguns lampejos me fez perguntar para mim mesmo se valia a pena ter sobrevivido. Com a festa da minha filha, de 15 anos, me pergunto, como entrarei no casamento dela? De cadeira de rodas?

Quero dizer que sim, valeu muito a pena ter sobrevivido, entre outras coisas para poder passar para outras pessoas, como hoje estamos aqui, que não precisa acontecer algo desta magnitude em nossa vida para pensarmos realmente o que estamos fazendo com ela. Nos últimos 20 anos estive aí deste lado, o da plateia, e podem ter certeza que somos a parte mais importante deste recinto. Sem nós, os nossos famosos palestrantes não estariam aqui. Sem nós não haveria fomento para estas empresas faturarem bilhões de lucro todos os anos. Portanto, sintam-se privilegiados.

Através deste acidente, eu e minha família vimos quem realmente são nossos amigos, quem realmente chegou junto, prestou solidariedade, deu uma palavra de apoio, gastou seu tempo em nos ajudar e levar para são Paulo um quilo de macaxeira ou mesmo um doce chamado “nego bom” que só quem é nordestino conhece. Não vou citar nomes, por que o tempo não permite, mas todos sabem o preço que tem isto, pois deixamos bem claro esta gratidão.

Vivemos numa sociedade que prega o amor, mas o amor ao dinheiro, à fama, a ser e ter mais do que o outro. Meus queridos, o que consegui amealhar durante estes 20 anos de profissão não me livrou de todas as dores que senti e ainda sinto, não adiantou em um único dia a minha recuperação. Vi minha vida estar por um fio, ir embora sem me despedir das pessoas que amo, da minha família, dos meus amigos, dos meus pacientes, que até hoje chegam aos colegas oftalmologistas dizendo que estão com saudades de mim, saudades do meu sorriso, do meu bom humor.

Isto tem preço? Isto mostra que plantei sementes. Durante este ano, aprendi realmente a viver em paz, a preencher o vazio que cada um de nós carrega dentro de si, que só pode ser preenchido com a presença do amor de Deus. Pensem, reflitam. É importante sim ter sucesso na profissão. Eu mesmo fazia em torno de 200 cataratas por mês, 20 cirurgias refrativas por mês, fazia uma catarata em 4 minutos, me enchia de orgulho disso. Tive o privilégio de atender o Flávio Rezende, pessoa para quem não poderia deixar de prestar esta homenagem; Agradecer ao dr. Marco Rey que, em qualquer local em que me encontrava dizia que eu seria um colega que ele deixaria operar a catarata dele. Não sei se falava isto de brincadeira e sei que está convalescendo. Mas hoje, muito mais que antes, muito mais amor da minha esposa, das minhas duas filhas, que ficaram comigo os primeiros meses, trancando faculdade, faltando em aula, a minha mãe, já que nos risco iminente ninguém sofre mais do que uma mãe.

Pessoas que é fácil a gente dizer isto, mas hoje também digo eu te amo a um amigo, a um vizinho, a um sócio, a um funcionário meu. Enfim, privilegio mais os relacionamentos. Não percam a oportunidade, pois pode ser a última da sua vida. Pois esta é a minha história de vida. Hoje sou uma pessoa menos ansiosa, mais tranquila, que vive em paz. Hoje acordo sem pensar no que vou fazer ou quanto vou faturar. Hoje acordo simplesmente agradecendo a Deus por estar vivo, que é dom mais precioso que Deus nos deu, por ter uma família linda e atenciosa e por ter amigos que me amam.

Muito obrigado.

 

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